sábado, 14 de maio de 2011

Entre os tics e tacs

Passam as ruas, os carros, os homens...
Passam correndo, quentes, enormes!
Sangram os pés, as mãos, o peito...
Vem o sol, a chuva, lua.
Nas pupilas dilatadas, cidade escura...
sono... Apaga os sonhos.
Um punhado de estrelas para mais tarde
mas as janelas continuam fechadas.
Escorrem os pensamentos...
Dentro das paredes:
tic-tac, tic-tac, tic-tac,
Tic Tac, tic tac, tic tacs,
Afinal, são apenas duas calorias.

sábado, 2 de abril de 2011

Espectro


(...)



- Não, eu não me lembro da última vez que eu ri a ponto da minha barriga doer...
Mas quando foi que você conseguiu esse seu olhar distante... tão sem foco?
E essas suas olheiras? Parece que você carrega o mundo sob elas.
Tá, tudo bem... não falo mais sobre isso... só me responda se a primeira coisa que você faz quando acorda ainda é correr e colocar aquele disco da Elis na vitrola.


- Não, estou pelas metades e a agulha quebrou.
As vezes eu coloco meus pés no chão...
mas as vezes são só os pés.
E sabe... eu nem ligo se é o direito ou o esquerdo.
Algumas horas é só o chão frio
corroendo tudo por dentro.
Daí levanto e faço um café bem quente
pra ter a sensação de que tá tudo aquecido por fora.
Ou então, vai logo um chá gelado...
Depende do quanto de amargura tem no sangue.


-Vai açucar?

- É açucar ou adoçante?
Porque tudo tem me parecido doce demais
Mas é um doce fora de quadro
Como se meu reflexo continuasse no espelho
e eu não estivesse mais lá.

- ....

Taynara Irias e Selene Gomes
deixando a liberdade poetizar na praça.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Fogo de palha

Eu, jardim cheio inverno
e seu corpo frio, jogado pelos butecos.
Café com blues,
seus olhos dizendo blue, blue, blue.

Ensaio penetrar e me desconcerto.
Já em alto mar você esquenta meu inverno.
A superfície finge ao interno:

Fogo e palha,

minha cama e o suor de nossa única noite...

Na chama de nossos corpos
o amor de inverno
se queimou.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre Saudade


Hoje seu cheiro de capim-limão e alfazema

dançou pela minha cabeça.
Seu olhar brincou de esconde-esconde
com os meus olhos.
É... arte é a recriação da alma.


As prateleiras da minha memória são cheias de você.
Encontro seu sorriso entre os clássicos russos,
esbarro com seu jeito sutil de arrumar os cabelos
na estante dos romances franceses.
Sorrio, quando de repente, sua expressão mais bonita
me vem entre as poesias inglesas.

Sinto falta do seu jeito desastrado de calçar os sapatos,
do seu rosto tranquilo ao descascar laranjas na varanda...
feito menino com seu brinquedo predileto.
Meus amigos andam dizendo:
"tá tudo bem, depois de um tempo esquece."
Tá tudo bem... Todo dia eu te encontro mais.

Pai, se agora somos um só, o que fazer com os braços?
Vou me abraçar todas as manhãs
e acreditar que o calor do seu corpo ainda me aquece.
Vou caminhar de cabeça erguida,
sou a soma dos meus desencontros e o nosso encontro.
Talvez eu me alimente de lembranças e reinvenções de você,
porque você vive em mim.

Posso chorar todas as nuvens do céu
De repente eu grite e quebre porta-retratos sem fotos
Mas o mundo é só botão de flor, eu sou raiz e caule.
É pai... tô aprendendo a florescer com o sol queimando a carne...
A saudade é como a dor do parto que não acontecerá.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O senhor do tempo

Seis da manhã!
Despertador, corre!
Dentes, escova... deixa.
Café, pão, larga na mesa.
Engarrafamento, esbraveja.
O suor escorre apressado pela face corada...
cada gotinha sob o busto é trovoada!
E chove forte em sua cabeça.
Escritório, o chefe, os papéis sobre a mesa!
Oh! Não há coelho correndo atrás das horas.
É só um homem perdido no tempo...
O tempo... pura areia movediça,
engoliu o homem, seu emprego, a dignidade... desespero!!!


-Pobrezinho! Tão novo... e ainda morreu desempregado!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Que ter lugar é não saber onde e como...


Poltrona vazia, discos arranhados,
O menino acha que está em seu lugar e leva o medo pelas mãos
A sala vai desabar, a casa ruir, o chão já tão cheio de pó, desaparecerá.


Eu quero desatar o nó dos encontros e me enlaçar fora dos trilhos,
desencontrar o trem de todas as estações.




Os vagões do tempo ainda correm na sua direção
Para, olha, escuta, sai do chão.
Larga as malas, a poltrona, abre as mãos.


Salto bem forte, deixo os pés fora do ar
Silêncio... o vento a me contar o caminho,
Saturno quer por seus anéis nos meus dedos...
me prometi aos mistérios do mundo.




A vitrola diz: " Eu sou a chuva que lança a areia do Saara"
E tudo gira, dança, canta! Mato, vento, fogueira, rio...
O garoto pega na mão os espinhos, floresce a alma, brinca de bola de sabão.
Poltrona vazia, discos arranhados... quem é que sabe, exatamente, onde está?
Enfim... as coisas estão em seu lugar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A poesia, O escuro e As flores



Chegou de madrugada, encharcada da poesia do céu. Caminhou em direção ao chuveiro... hesitou. Deixou seu vestido escorregar pelo seu corpo até os pés. Abriu a janela e os braços. Ali ela estava, nua, sem armas, aquele era seu jeito de enfrentar o mundo. Só ela, livre para o que seu destino a reservasse. E o mundo era aquilo mesmo, uma janela aberta e escura... em que se sente muito mais do que se vê, ou se pensa enxergar.
Ela não só colocou a cara a bater, mas todo seu corpo. E o vento poderia tentar cortar a sua pele, ela continuaria a admirar o poder que ele tinha de fazer voar os seus cabelos, crespos. Se debruçou sobre o parapeito daquela janela tentando engolir o silêncio, caiu no sono. Acordou com o sol sobre seus olhos. Não era o mundo que estava diferente, era ela que aceitava a dor, as lágrimas, o corte... tudo pela florzinha pequenina que iria nascer dentro dela. Coisa que não se vê.
-O escuro brilha tanto -repetiu para si mesma.
Agora ela estava pronta para iluminar escuridão de mais um dia. Na sua rua esbarrou com um flor, bem no asfalto, de tudo o que tinha visto, aquela era a maior das delicadezas. Sorriu, na esperança de que faria brotar muitas outras flores no concreto que a cercava.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

E por querer de novo cores...



.


O vento forte varria toda sujeira aos olhos
shuuuahhhuhhh shiiiiahh...
Soprava seus tristes versos por toda direção.
As janelas de madeira se encontravam
e taaaktiii nhêeeec...
as dobradiças enferrujadas se expandiam, novamente.

A velha senhora continuava em sua cadeira de balanço
com os pés fora do chão, olhando fixadamente para fora.
O frio preenchia cada poro,
como um lençol, enroscava-se pelo corpo... gelado.
Os cabelos brancos e quebradiços sinalizavam
que ela não deixara de esperar...

E suportava o seu corpo congelando,
a restrição de movimentos,
a vida solitária,
os dias sem luz,
o escuro de toda uma estação,
os olhos lacrimosos pelo vento...

Suportava porque sabia que ela chegaria com o vento norte
e encheria sua casa com sua luz e derramaria todas suas cores.
E valeria toda a dor porque ela lhe acariciaria não só a visão
mas toda sua alma.
E a senhora nasceria novamente.

Toda dor antecede a resplandecência das cores.
E não há escuridão que não se espante com a luz
que se vê quando se acredita de verdade.
E a senhora não podia andar, nem falar, nem se mover...
sofrera um grave acidente.

Restavam poucos sentidos...
seus olhos só enxergavam angústia.
Foi até onde não poderiam encontrá-la.
E percebeu que no pólo norte o sol também aparecia...
Veio a luz, mas tudo era muito estranho.



E por querer de novo as cores...
os ventos do norte lhe trouxeram a aurora boreal.
Então, ela nunca deixou de acreditar
que tudo o que o se vai, volta.


Porque os ventos que trazem também retiram,
mas presenteiam novamente
com novas cores, novas formas.
Só é necessário que não se abra apenas os olhos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A liberdade com fome de alma e rima




As folhas se balançavam...

soavam como sinos ao tocar do vento.
Ela jogou os cabelos...
dois pés no chão.
Acenderam-se as luzes,
fechou o sinal.

Acenderam-se as estrelas
Sonhos de brilhar
Metade acesa, metade rima,
inteira poesia.
Que o sol esconde pra brilhar d'outro lado.
Luz.

Seguiu a trilha...
atravessou os galhos como se penetrasse em outro mundo.
Um rio jorrava de seus olhos.
Vitrine do paraíso,
espelho da alma.
Gotas enormes caiam sobre sua cabeça...
chovia poesia.



De pés descalços, subiu em uma árvore.
Na ponta de seu galho, uma estrela brincava de ser luz.
Colheu um sonho.
Era vermelho e em sua mão se fez aquecer, acolhedor.
Refletiu nos olhos da menina
que se fez criança a brincar de sonhar.

Agora os lábios traziam um sorriso
que apagava a descrença.
Ela só enxergava uma direção...
o infinito espaço de um beijo.
Inventou seu par, sentiu seu corpo quente...
Os dois ali, juntos ao jazz da praça.
Dançaram até os pés se desfazerem
e ele se tornou real...
tanto quanto o lume de estrelas que acabara de colher da árvore.

Por Taynara e Camila
libertando todo o surrealismo contido nas pontas dos dedos enquanto a mente realizava...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As cores e o infinito



Os cabelos dançavam no ritmo de seu vestido de chita,
ela bordava as nuvens com os olhos
enquanto tocava o azul com a ponta dos dedos.
E o mundo era seu.

A garota nunca chegava a lugar algum.
O seu lugar ia ao alcance de sua visão.
Ela pintou sua estrada com 7 cores,
enfeitou seu arco-íris de céu,
se perdeu.

Ela insistia em sentir com as mãos.
Mas quando soprava, deixava livres as bolhas de sabão.
É que elas iam junto ao vento,
até se desintegrarem, voltarem ao ciclo.
E tudo era um só.

Então, a garota botou toda sua fé em uma sacola
e foi com o tempo.
Sobre seu corpo sentiu muita chuva, muito sol.
Até que um dia era sol e chuva.
Um arco-íris se instalou no céu.

É no infinito que todas cores se encontram.
E menina não tinha medo de tirar os pés do chão.
Ela era é do mundo.
E o tamanho do mundo depende da posição do espectador...
Mas ela atuava.