domingo, 7 de abril de 2013

Sentido de novo


De novo observo minha avó pelo dia,
as suas mãos rasas de carne contrapõe os sulcos do rosto

e afrontam minhas certezas sobre o correr da vida.
Tem pelos tão claros quanto os olhos, profundamente
mergulhados no preparo do bolo de todas as tardes,

na redescoberta dos gostos
dos mesmos ingredientes
misturados e sentidos diferentes.
Traz em si uma graça, que quase me escapa,
em compreender que a mistura da vida
não se conserva
que a alguns sabores não se pode mais sentir 
apenas porque já não têm o que acrescentar, incrementar 
a massa, que ainda sim - cresce
transformada,
mesmo que apenas pela mudança na ordem dos olhares.
A tal ponto do mergulho, o calor do forno a desperta
e ela caminha, com seus passinhos lentos e curtos,
da pia até o fogão:
lança ao forno o preparo, sorri e me olha
com seus olhos de águas claras.
Vejo vida e mais vida a transpor a idade que ela
carrega no corpo.
Corredeira de sentimentos, entendo
como tanto do mesmo pode-se fazer novo, de novo.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Posição Pronomial

Tantos meus
poucos nós
me prendem
na possessão do que não sou eu.