segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Que ter lugar é não saber onde e como...


Poltrona vazia, discos arranhados,
O menino acha que está em seu lugar e leva o medo pelas mãos
A sala vai desabar, a casa ruir, o chão já tão cheio de pó, desaparecerá.


Eu quero desatar o nó dos encontros e me enlaçar fora dos trilhos,
desencontrar o trem de todas as estações.




Os vagões do tempo ainda correm na sua direção
Para, olha, escuta, sai do chão.
Larga as malas, a poltrona, abre as mãos.


Salto bem forte, deixo os pés fora do ar
Silêncio... o vento a me contar o caminho,
Saturno quer por seus anéis nos meus dedos...
me prometi aos mistérios do mundo.




A vitrola diz: " Eu sou a chuva que lança a areia do Saara"
E tudo gira, dança, canta! Mato, vento, fogueira, rio...
O garoto pega na mão os espinhos, floresce a alma, brinca de bola de sabão.
Poltrona vazia, discos arranhados... quem é que sabe, exatamente, onde está?
Enfim... as coisas estão em seu lugar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A poesia, O escuro e As flores



Chegou de madrugada, encharcada da poesia do céu. Caminhou em direção ao chuveiro... hesitou. Deixou seu vestido escorregar pelo seu corpo até os pés. Abriu a janela e os braços. Ali ela estava, nua, sem armas, aquele era seu jeito de enfrentar o mundo. Só ela, livre para o que seu destino a reservasse. E o mundo era aquilo mesmo, uma janela aberta e escura... em que se sente muito mais do que se vê, ou se pensa enxergar.
Ela não só colocou a cara a bater, mas todo seu corpo. E o vento poderia tentar cortar a sua pele, ela continuaria a admirar o poder que ele tinha de fazer voar os seus cabelos, crespos. Se debruçou sobre o parapeito daquela janela tentando engolir o silêncio, caiu no sono. Acordou com o sol sobre seus olhos. Não era o mundo que estava diferente, era ela que aceitava a dor, as lágrimas, o corte... tudo pela florzinha pequenina que iria nascer dentro dela. Coisa que não se vê.
-O escuro brilha tanto -repetiu para si mesma.
Agora ela estava pronta para iluminar escuridão de mais um dia. Na sua rua esbarrou com um flor, bem no asfalto, de tudo o que tinha visto, aquela era a maior das delicadezas. Sorriu, na esperança de que faria brotar muitas outras flores no concreto que a cercava.