sábado, 19 de dezembro de 2009

Ao homem da minha vida


Não é com um adeus que me despeço, faço-o com um até logo. A dor que me toma nesse momento não é a de sua partida mas pela indefinição de quando nos encontraremos de novo. Escrevo com angustia de que você o pudesse ler, embora você já soubesse de tudo isso. Mas eu queria que me fosse dada mais uma chance de te lembrar o quanto eu te amava, te dar um abraço apertado e ouvir você dizer que tudo ficaria bem. Ah! Como eu queria sentir mais uma vez o seu calor, ouvir suas palavras sábias e olhar seus olhos de amor e me encher de coragem. Como eu queria fazer outras tantas coisas com você, caminhar na praia sem rumo só jogando conversa fora, virar a madrugada jogando truco...
Ai pai... quantas vezes eu me enchi de raiva para depois me banhar em lágrimas, porque eu tinha raiva de como você conseguia me sentir, como você descobria em mim os defeitos que eu escondia de mim mesma, como você me apresentava a mim do meu âmago à minha carne -tão imperfeitos- de forma tão verdadeira. E era o único, o único que conseguia me fazer chorar como uma menina de 5 anos depois de tirada de si a boneca. Tudo isso para me preparar, para fazer de mim mulher de verdade e não uma boba despreparada, como você dizia. Você percebia em mim os erros e nunca consertou nada antes que eu pudesse sentir e prever o que fosse dar errado. Sempre me apontando a direção, me guiando, me emprestando as tuas pernas quando as minhas estavam tremulas. Você inaugurou em mim todas as minhas virtudes. E eu devo a você tudo o que sou e o que serei no futuro.
Nesse momento eu me sinto tão pequenininha e o mundo parece ter ficado enorme sem você aqui. Dentro de mim um vazio tão grande tenta tomar conta do meu ser a todo momento. E também, a dor de não vê-lo realizar todos os seus planos. Você planejava tanta coisa, tinha tantos projetos, sonhou tanto e quando começava a por em prática... Mas ao mesmo tempo, você era tão forte, e tão sensitivo que preparou tudo para nós, não deixou-nos desamparadas sequer agora que seu corpo não está mais entre nós.
Você viveu e fez tanto por mim, que eu me sinto inválida de mais por não ter tido a chance de retribuir ao menos metade (já que nunca eu conseguiria fazer o que você fez). Eu queria ver você velhinho, acariciar os seus cabelos brancos, e beijar o seu rostinho cheio de linhas do tempo, isto tudo enquanto você contava as peripécias da sua ida ao supermercado. Vês? Já começo mais uma vez a falar do que poderia ter sido e não foi. Com a esperança de que daqui a pouco você vai chegar, abrir a porta e fazer todos que tivessem deitados se levantarem porque iriamos sair para algum lugar, nos divertirmos. Todo lugar me lembra você, cada cantinho da casa, cada objeto, que sempre tinha sua assaz opinião. E tudo que eu me lembre agora vai doer.
Tudo era você, você foi meu herói, meu melhor amigo, o homem mais sábio que eu já conheci (e sei que não haverá igual), o homem que tão novo viveu tantas coisas, passou por outras tantas e continuou de pé, o homem que não parava um minuto sequer, o homem que tantas noites passou em claro porque alguma coisa atormentava a mim ou alguém da família, o homem com o qual fiquei tantas madrugadas conversando, sempre me passando experiência, me instruindo. Foi você que tirou as rodinhas da minha bicicleta e que na primeira queda mostrou que o medo e o trauma fariam com que eu nunca mais andasse para frente. Você foi e é o pai que muitos gostariam de ter, você foi PAI por completo, com todas as responsabilidades que a palavra acarreta. E talvez, por ter sido tão pai, tão intensamente, foi ao seu descanso cedo (cedo para nós que te queríamos aqui eterno) porque cumpriu a sua missão nesse plano.
Sei que agora é a hora de colocar em prática tudo aquilo que você me ensinou. Fico com a certeza de que você foi para a luz, onde a primavera é eterna. E sua alma estará sempre com a minha. A força que me mantém de pé só pode emanar de fontes como as suas e por isso aceitarei a sua ida, assim como você aceitava. Você sempre aceitou tão bem a morte!
As lágrimas que caem enquanto escrevo, logo logo se tornarão saudades e cairão mais uma vez, porém de forma serena.

Eu sempre te amarei.

Até logo.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Balanço

Tudo que é
e tudo que sou.
Todo mundo do lado de fora.
lá! Corre a senhora dona cidade
mas não se move.

Resta a última gota do último cálice.
E a cidade não se move,
os prédios não dançam
como as moças de família dançam no ônibus às 18:30
Para lá e para cá saculeja em cada curva.
Sincronia imediata.

Sou eu quem vê agora
do lado de fora
de dentro da janela
A vida saculejando.
Como no balanço da criança que chora para se jogar.

Balança no meu balanço
para brincar de ver a cidade se movimentar.
Rodar até ficar tonto
Tduo igrar
rrgia, ragir,rigar, girar...
vento que não move
me faz girar, rgria, igar...