quarta-feira, 30 de junho de 2010

Velho novo romance

Romeu e Julieta são de gostos opostos.
Julieta sempre tão doce
e Romeu oscilando,
amargando, endurecendo, amarelando.
Julieta amacia como o fruto fresco colhido na hora
Romeu precisa ser maduro...
precisa se desviar dos perigos de ser quem é
para ficar coladinho em seu par
até que se tornem um só.
Vovó que o diga...
Faz questão de grudar direitinho um no outro
deixando que desçam estômago abaixo
até que formem a mesma massa.
Mas quando não é domingo,
a gente esquece que o queijo é mais gostoso maduro
e a goiabada tem mais gosto se é cascão.
Romeu e Julieta durante a semana
têm até características humanas.

domingo, 20 de junho de 2010

Cata-tempo

Ele ali, sentado em frente a janela fechada
e o mundo lá fora...
balbuciando, gritando, socorrendo.
Ele ali, do lado de dentro da cidade,
equidistante dos pólos,
no centro
girando sem eixo.
O mundo além da janela
mas seu sorriso no vidro...
depois as linhas que o tempo deixa de lembrança,
os fios de cabelo quebradiços
e as mãos um pouco enrugadas.
Ele ali, sendo refletido no vidro
e encontrando seus velhos erros,
seu próprio tempo,
seu orgulho e seu medo.
Ele ali, com toda a sua forte essência...
O mesmo vidro que fecha o mundo de fora
é o que abre o de dentro.

sábado, 5 de junho de 2010

Estados e mar


E veio o vento.
Arrastando o que insiste em ser parasita
das palavras
dos sonhos
das vidas
que não são suas.

E caiu a chuva
Mandando pra longe o que não tem raiz
limpando seu corpo
do que está mas não é.

Então se tornaram um só
e era o temporal,
encharcando [in]certezas
que bailavam sobre sua superfície.

Tanto náufrago,
mas enfim chegou a calmaria
silenciando a fúria que vinha lá de dentro
deixando vir novas embarcações.

As águas estão limpas
mas a praia ainda está suja,
porque vieram as ondas
e cuspiram tudo o que é impermeável.
É que o mar não aceita o que não atravessa
mas quer retirar sem se tornar parte dele.
.
.
.
e mostraram que todo equilibrista precisa de caos.