quarta-feira, 16 de março de 2011

Fogo de palha

Eu, jardim cheio inverno
e seu corpo frio, jogado pelos butecos.
Café com blues,
seus olhos dizendo blue, blue, blue.

Ensaio penetrar e me desconcerto.
Já em alto mar você esquenta meu inverno.
A superfície finge ao interno:

Fogo e palha,

minha cama e o suor de nossa única noite...

Na chama de nossos corpos
o amor de inverno
se queimou.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre Saudade


Hoje seu cheiro de capim-limão e alfazema

dançou pela minha cabeça.
Seu olhar brincou de esconde-esconde
com os meus olhos.
É... arte é a recriação da alma.


As prateleiras da minha memória são cheias de você.
Encontro seu sorriso entre os clássicos russos,
esbarro com seu jeito sutil de arrumar os cabelos
na estante dos romances franceses.
Sorrio, quando de repente, sua expressão mais bonita
me vem entre as poesias inglesas.

Sinto falta do seu jeito desastrado de calçar os sapatos,
do seu rosto tranquilo ao descascar laranjas na varanda...
feito menino com seu brinquedo predileto.
Meus amigos andam dizendo:
"tá tudo bem, depois de um tempo esquece."
Tá tudo bem... Todo dia eu te encontro mais.

Pai, se agora somos um só, o que fazer com os braços?
Vou me abraçar todas as manhãs
e acreditar que o calor do seu corpo ainda me aquece.
Vou caminhar de cabeça erguida,
sou a soma dos meus desencontros e o nosso encontro.
Talvez eu me alimente de lembranças e reinvenções de você,
porque você vive em mim.

Posso chorar todas as nuvens do céu
De repente eu grite e quebre porta-retratos sem fotos
Mas o mundo é só botão de flor, eu sou raiz e caule.
É pai... tô aprendendo a florescer com o sol queimando a carne...
A saudade é como a dor do parto que não acontecerá.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O senhor do tempo

Seis da manhã!
Despertador, corre!
Dentes, escova... deixa.
Café, pão, larga na mesa.
Engarrafamento, esbraveja.
O suor escorre apressado pela face corada...
cada gotinha sob o busto é trovoada!
E chove forte em sua cabeça.
Escritório, o chefe, os papéis sobre a mesa!
Oh! Não há coelho correndo atrás das horas.
É só um homem perdido no tempo...
O tempo... pura areia movediça,
engoliu o homem, seu emprego, a dignidade... desespero!!!


-Pobrezinho! Tão novo... e ainda morreu desempregado!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Que ter lugar é não saber onde e como...


Poltrona vazia, discos arranhados,
O menino acha que está em seu lugar e leva o medo pelas mãos
A sala vai desabar, a casa ruir, o chão já tão cheio de pó, desaparecerá.


Eu quero desatar o nó dos encontros e me enlaçar fora dos trilhos,
desencontrar o trem de todas as estações.




Os vagões do tempo ainda correm na sua direção
Para, olha, escuta, sai do chão.
Larga as malas, a poltrona, abre as mãos.


Salto bem forte, deixo os pés fora do ar
Silêncio... o vento a me contar o caminho,
Saturno quer por seus anéis nos meus dedos...
me prometi aos mistérios do mundo.




A vitrola diz: " Eu sou a chuva que lança a areia do Saara"
E tudo gira, dança, canta! Mato, vento, fogueira, rio...
O garoto pega na mão os espinhos, floresce a alma, brinca de bola de sabão.
Poltrona vazia, discos arranhados... quem é que sabe, exatamente, onde está?
Enfim... as coisas estão em seu lugar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A poesia, O escuro e As flores



Chegou de madrugada, encharcada da poesia do céu. Caminhou em direção ao chuveiro... hesitou. Deixou seu vestido escorregar pelo seu corpo até os pés. Abriu a janela e os braços. Ali ela estava, nua, sem armas, aquele era seu jeito de enfrentar o mundo. Só ela, livre para o que seu destino a reservasse. E o mundo era aquilo mesmo, uma janela aberta e escura... em que se sente muito mais do que se vê, ou se pensa enxergar.
Ela não só colocou a cara a bater, mas todo seu corpo. E o vento poderia tentar cortar a sua pele, ela continuaria a admirar o poder que ele tinha de fazer voar os seus cabelos, crespos. Se debruçou sobre o parapeito daquela janela tentando engolir o silêncio, caiu no sono. Acordou com o sol sobre seus olhos. Não era o mundo que estava diferente, era ela que aceitava a dor, as lágrimas, o corte... tudo pela florzinha pequenina que iria nascer dentro dela. Coisa que não se vê.
-O escuro brilha tanto -repetiu para si mesma.
Agora ela estava pronta para iluminar escuridão de mais um dia. Na sua rua esbarrou com um flor, bem no asfalto, de tudo o que tinha visto, aquela era a maior das delicadezas. Sorriu, na esperança de que faria brotar muitas outras flores no concreto que a cercava.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

E por querer de novo cores...



.


O vento forte varria toda sujeira aos olhos
shuuuahhhuhhh shiiiiahh...
Soprava seus tristes versos por toda direção.
As janelas de madeira se encontravam
e taaaktiii nhêeeec...
as dobradiças enferrujadas se expandiam, novamente.

A velha senhora continuava em sua cadeira de balanço
com os pés fora do chão, olhando fixadamente para fora.
O frio preenchia cada poro,
como um lençol, enroscava-se pelo corpo... gelado.
Os cabelos brancos e quebradiços sinalizavam
que ela não deixara de esperar...

E suportava o seu corpo congelando,
a restrição de movimentos,
a vida solitária,
os dias sem luz,
o escuro de toda uma estação,
os olhos lacrimosos pelo vento...

Suportava porque sabia que ela chegaria com o vento norte
e encheria sua casa com sua luz e derramaria todas suas cores.
E valeria toda a dor porque ela lhe acariciaria não só a visão
mas toda sua alma.
E a senhora nasceria novamente.

Toda dor antecede a resplandecência das cores.
E não há escuridão que não se espante com a luz
que se vê quando se acredita de verdade.
E a senhora não podia andar, nem falar, nem se mover...
sofrera um grave acidente.

Restavam poucos sentidos...
seus olhos só enxergavam angústia.
Foi até onde não poderiam encontrá-la.
E percebeu que no pólo norte o sol também aparecia...
Veio a luz, mas tudo era muito estranho.



E por querer de novo as cores...
os ventos do norte lhe trouxeram a aurora boreal.
Então, ela nunca deixou de acreditar
que tudo o que o se vai, volta.


Porque os ventos que trazem também retiram,
mas presenteiam novamente
com novas cores, novas formas.
Só é necessário que não se abra apenas os olhos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A liberdade com fome de alma e rima




As folhas se balançavam...

soavam como sinos ao tocar do vento.
Ela jogou os cabelos...
dois pés no chão.
Acenderam-se as luzes,
fechou o sinal.

Acenderam-se as estrelas
Sonhos de brilhar
Metade acesa, metade rima,
inteira poesia.
Que o sol esconde pra brilhar d'outro lado.
Luz.

Seguiu a trilha...
atravessou os galhos como se penetrasse em outro mundo.
Um rio jorrava de seus olhos.
Vitrine do paraíso,
espelho da alma.
Gotas enormes caiam sobre sua cabeça...
chovia poesia.



De pés descalços, subiu em uma árvore.
Na ponta de seu galho, uma estrela brincava de ser luz.
Colheu um sonho.
Era vermelho e em sua mão se fez aquecer, acolhedor.
Refletiu nos olhos da menina
que se fez criança a brincar de sonhar.

Agora os lábios traziam um sorriso
que apagava a descrença.
Ela só enxergava uma direção...
o infinito espaço de um beijo.
Inventou seu par, sentiu seu corpo quente...
Os dois ali, juntos ao jazz da praça.
Dançaram até os pés se desfazerem
e ele se tornou real...
tanto quanto o lume de estrelas que acabara de colher da árvore.

Por Taynara e Camila
libertando todo o surrealismo contido nas pontas dos dedos enquanto a mente realizava...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As cores e o infinito



Os cabelos dançavam no ritmo de seu vestido de chita,
ela bordava as nuvens com os olhos
enquanto tocava o azul com a ponta dos dedos.
E o mundo era seu.

A garota nunca chegava a lugar algum.
O seu lugar ia ao alcance de sua visão.
Ela pintou sua estrada com 7 cores,
enfeitou seu arco-íris de céu,
se perdeu.

Ela insistia em sentir com as mãos.
Mas quando soprava, deixava livres as bolhas de sabão.
É que elas iam junto ao vento,
até se desintegrarem, voltarem ao ciclo.
E tudo era um só.

Então, a garota botou toda sua fé em uma sacola
e foi com o tempo.
Sobre seu corpo sentiu muita chuva, muito sol.
Até que um dia era sol e chuva.
Um arco-íris se instalou no céu.

É no infinito que todas cores se encontram.
E menina não tinha medo de tirar os pés do chão.
Ela era é do mundo.
E o tamanho do mundo depende da posição do espectador...
Mas ela atuava.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Arvoressência

...para Thais, que juntou o som de seu violino ao da chuva... Foram um só.

Uma primavera molhada
Encheu-me os olhos,
por sorte permeáveis.
Uma gota de orvalho
escorreu de meus poros
e alimentou meu sorriso.
Movimentei-me e era música.
Bebi um pouco de sol,
respirei fundo,
liberei oxigênio...
floresci.

sábado, 6 de novembro de 2010

E se o amor quiser provas




Manhã de domingo, ela olhou preguiçosamente para lado e não havia mais ninguém na cama. Apenas seu corpo pesado ocupava o espaço. Pensou em se levantar, mas os olhos remelavam tanto que preferiu adiar o momento até quando a dor chegasse a seu corpo e ela não pudesse mais conter. Duas horas depois, decidiu que: ou era dissolvida, ou se levantava. Sabendo que tudo é solúvel, percebeu que escorreria para algum lugar sombrio. Ficou com a segunda opção. Calçou seus chinelos se espreguiçando, lavou o rosto, abriu a porta e logo avistou seu companheiro. Ali estava ele, com toda sua plenitude... esperava-a com um café quente e torradas. O cheiro percorria todo o apartamento. Ela sorriu, como se o vapor fosse música. Talvez fosse, talvez o amor tivesse composto algo, instantaneamente quente, em seu coração.


Então, depois do café da manhã, o casal se beijou e foi a igreja. Chegaram às 11:00 e como de costume, ela fez o almoço enquanto ele assistiu aos seus programas desportivos. Era sempre a mesma coisa... Almoçavam, viam o jogo e logo depois algum filme, até que dormissem pelo sofá. Depois iam para a cama assustados com a velocidade com qual o dia foi embora, preparando seus corpos para o cansaço de mais uma semana de trabalho, acostumando suas mentes para o amor retraído, estressado, quase mal educado, que os esperava durante a semana.


As vezes, o domingo se tornava tão distante que eles se esqueciam de todos os bons pensamentos e se entregavam ao caos do dia-a-dia. Ele deixava de lado as cores que pintava os olhos dela quando, de repente, eles saltitavam ouvindo aquela música. E ela ignorava o brilho do sorriso dele quando ele ajudava alguém. E então, eles brigavam. E aquela era sempre a última vez, tudo ou nada. Sempre quase acabava, para refazer o quase início. A verdade é que sabiam que os laços que os uniam não podiam se romper, mesmo que esquecessem da sua existência. Mas o coração sempre reconhece o que o fez mais livre, porque o amor de verdade liberta, não prende.


Anos se passaram, até que um domingo ela olhou para o lado de sua cama e, novamente, não viu ninguém. Mas dessa vez não ficaria deitada, não havia sono. Somente um grande vazio preenchia seu corpo e seu espaço. Levantou logo e saiu com os pés descalços no chão frio de seu apartamento, olhou e não encontrou ninguém a sua espera. Não havia café nem torradas, só um chá gelado na geladeira. Foi o que bebeu naquela manhã, sentada no sofá enquanto Renato Russo cantava, na velha vitrola, que " é tão estranho, os bons morrem jovens...". Então ela ficou ali, sentindo o coração apertar cada vez mais, a garganta contraindo... Não tinha pra onde ir, nem o que fazer, estava imóvel, olhos fixos no nada.

Depois de terríveis duas horas, a mulher se levantou e foi até o quarto. Abriu o guarda-roupa, olhou, olhou... não tinha nada dele. Correu até o banheiro, só havia uma escova de dentes. Ela se olhou no espelho e não viu nada, chorou, puxou seus cabelos, quebrou alguns enfeites. Tentava se lembrar de como aquilo teria ocorrido, ela se sentia presa em um poço escuro e não sabia como escalar de volta a superfície. Agora o seu amor escorria pelo seu corpo, como suas lágrimas. Olhou para o lado, lançou a mão sobre um canivete, aproximou-o de seu pescoço...
Silêncio, tudo está escuro, ela está mergulhando pelas águas, ainda de olhos fechados, inconsciente.


- Oi, meu bem, meu bem! Acho que você dormiu demais hoje, a missa é daqui a 20 minutos. Você não vem?


Ela abriu os olhos vagarosamente, ficou olhando, não conseguia dizer nada. Olhou em volta, tocou seu companheiro.

- É... tá tudo ok?

Ela apenas balançou a cabeça positivamente e sorriu. Depois o puxou para a cama. Não queria fazer nada, queria ficar ali, coladinha ao homem que amava até que aquele domingo passasse logo, e depois, faria do resto da semana os seus domingos. E a cada vez que os laços se tornassem mais fortes, mais livres ele se sentiriam. Estava serena quanto a sua escolha, sabia que depois de algum tempo eles brigariam (como sempre ocorria), mas não queria esperar mais 6 dias para perceber que o amava. Agora ela o veria brilhar em cada gesto, quando cansasse, pintaria seu rosto de várias outras cores. Porque seus olhos podiam colorir o mundo. E, quando ocorresse, que fossem as brigas as provas de que o amor prevalece e não a morte.