sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Dilacerado

Era mais um dia de constância. Havia 9 dias que aquele rapaz não dormia. Como um predador faminto a procura da caça, mantinha os olhos fixos, imensos em busca de explicação. Mais lhe pediam e menos desviava os olhos atentos daquele senhor que, um pouco desfigurado, observava o céu. Este, parecia se difundir dentre os montes, pelos quais, ele costumava caminhar, já de tardezinha. Embora a beleza não o possuísse, infortúnio seria não afirmar que quando o sol se punha, aquela cena parecia ter sido retirada de alguma tela de um célebre pintor, tamanha intensidade e reflexão trazia.
O rapaz decidiu então, ir atrás daquele homem, este não aceitava qualquer aproximação. O rapaz correu - talvez como nunca correra antes- enfiou-se entre os arbustos e não mais o pôde achar. Informando-se, atingiu o abrigo daquele homem, uma altitude imensa. Respirou fundo o ar rarefeito do lugar e bateu na porta com o desespero de quem seguiu a tropeçar até enfim se acabarem as pedras. Ele tinha sede de resposta, precisava daquela conversa.
A porta se abriu, para seu espanto o homem o receberia. Adentrou três passos e ficou a observar, todos os lados, cantos e margens. Enquanto o senhor, perseguia-o com o olhar.
Aquele rapaz possuía um brilho, um sorriso, teria atingido ali uma vivacidade inexpressiva, parecia a criança que enfim encontrara seu doce!
O homem, depois de algum tempo, com a voz falha, pôs-se a dizer: " Meu jovem, quero que me compreenda. Sou um velho e aproximo-me cada dia mais do fim da estrada. Não me siga, vá viver, trabalhe, mas o faça bem, para que enxergue, cada vez mais, cada dia mais, uma oportunidade de fazer tudo diferente, de sentir o pulsar da vida quente, de dar a cada gota de orvalho a importância que cabe a todas as coisas simples e belas!"
O rapaz não pôde se conter e disse: " Mas o senhor é sábio, é o poeta, aquele mais contemplado das últimas décadas. E eu, queria tanto entrevistá-lo!"
O senhor então, sério mas não perdendo o ar de bondade, pronunciou: " Nove dias a se cansar meu caro? Do que vale? Diga-me? Todo o meu sucesso veio porque eu permiti que meus medos partissem sem sequelas, para que eu enfim vivesse para mim. Escrevo para mim, para viver e sorrir. Se me entristeço, para cá venho me refugiar afim de que nenhuma pessoa se contamine com a minha tristeza."
No momento o rapaz nada pôde dizer, desmoronou ali e encharcou-se em lágrimas, parece que enfim havia notado que até ali sua vida teria se passado despercebida. Chorava com a dor de alguém que perde seu ente querido, pois havia perdido o que mais deveria amar em todo seu existir. Havia perdido a si mesmo. No espelho encontrava um desconhecido. Era como se da sua infância até aquele dia, tivessem inserido um espaço, não haviam memórias, nem sorrisos, apenas um vazio...
O velho em um último suspiro, disse: "Sempre existe outro caminho!"
Caiu imóvel no chão, havia morrido. Parece que esperava aquele momento para que pudesse partir. Aquelas palavras marcariam aquele rapaz, por toda sua vida.

3 comentários:

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