terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre Saudade


Hoje seu cheiro de capim-limão e alfazema

dançou pela minha cabeça.
Seu olhar brincou de esconde-esconde
com os meus olhos.
É... arte é a recriação da alma.


As prateleiras da minha memória são cheias de você.
Encontro seu sorriso entre os clássicos russos,
esbarro com seu jeito sutil de arrumar os cabelos
na estante dos romances franceses.
Sorrio, quando de repente, sua expressão mais bonita
me vem entre as poesias inglesas.

Sinto falta do seu jeito desastrado de calçar os sapatos,
do seu rosto tranquilo ao descascar laranjas na varanda...
feito menino com seu brinquedo predileto.
Meus amigos andam dizendo:
"tá tudo bem, depois de um tempo esquece."
Tá tudo bem... Todo dia eu te encontro mais.

Pai, se agora somos um só, o que fazer com os braços?
Vou me abraçar todas as manhãs
e acreditar que o calor do seu corpo ainda me aquece.
Vou caminhar de cabeça erguida,
sou a soma dos meus desencontros e o nosso encontro.
Talvez eu me alimente de lembranças e reinvenções de você,
porque você vive em mim.

Posso chorar todas as nuvens do céu
De repente eu grite e quebre porta-retratos sem fotos
Mas o mundo é só botão de flor, eu sou raiz e caule.
É pai... tô aprendendo a florescer com o sol queimando a carne...
A saudade é como a dor do parto que não acontecerá.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O senhor do tempo

Seis da manhã!
Despertador, corre!
Dentes, escova... deixa.
Café, pão, larga na mesa.
Engarrafamento, esbraveja.
O suor escorre apressado pela face corada...
cada gotinha sob o busto é trovoada!
E chove forte em sua cabeça.
Escritório, o chefe, os papéis sobre a mesa!
Oh! Não há coelho correndo atrás das horas.
É só um homem perdido no tempo...
O tempo... pura areia movediça,
engoliu o homem, seu emprego, a dignidade... desespero!!!


-Pobrezinho! Tão novo... e ainda morreu desempregado!